
Todos esses problemas não podem ser justificados por falta de verbas. Além dos 400 milhões de reais anunciados como investimento pelo governo federal, o orçamento do Fórum foi engrossado com o aluguel de espaços para comércio na área interna, com valores que variaram de R$100,00 a R$1.500,00 e o pagamento de taxas de inscrição nos valores de R$15,00 a R$30,00. Por serem obrigatórias para a participação em uma grande parte das atividades, acabaram inviabilizando a participação de grande parte da população local.
A violência praticada contra os/as moradores/as da região periférica foi outro agravante deste Fórum. Um morador da Ilha de Caratateua relatou que sofreu humilhação ao ser revistado em diversas barreiras policiais localizadas entre a periferia e os locais onde aconteciam as atividades do Fórum: "Fomos parados em quatro barreiras policiais no mesmo dia, sendo que com a Força Nacional fomos obrigados a descer da moto, eu e minha esposa, e a deitar no chão, no asfalto. Ao questionar que aquilo era inconstitucional, os militares responderam - Não importa irmão, deita no chão". (Sr. J. - morador).
Os estabelecimentos comerciais situados próximos da UFPA, (Universidade Federal do Pará) e UFRA, (Universidade Federal Rural da Amazônia), no bairro Terra Firme, também serviram de cenário para o abuso policial. Casas noturnas e bares foram obrigados a fechar as portas às 22 horas e a ação de vigilância sobre os moradores da região por parte do exército e da polícia deverá continuar ainda por mais dois meses.
Entre outros atos de criminalização da população local, as autoridades proibiram as festas populares conhecidas como "treme terra" ou "aparelhagem" (festas com grandes caixas de som e djs tocando músicas paraenses) em toda a cidade durante a realização do fórum. O incrível é que enquanto toda Belém sabia da proibição, poucas pessoas das áreas mais carentes da cidade sabiam do que se tratava o fórum, chegando a confundir o evento com um encontro da ONU (Organização das Nações Unidas).O autoritarismo contra as comunidades locais chegou até as Rádios Comunitárias. Em Icoaraci, bairro situado na periferia de Belém, uma semana antes do início do Fórum pelo menos 4 Rádios Comunitárias foram "visitadas" pela Polícia Federal e intimadas a baixarem suas antenas além de terem suas atividades suspensas.
Muitos participantes voltaram frustrados. Estudantes do interior de São Paulo ralataram, indignados, o cancelamento de várias atividades programadas, como por exemplo a atividade "Não-violência como ferramenta da revolução social", anunciada para a tarde de sexta-feira com o pensador norte-americano Noam Chomsky e o escritor uruguaio Eduardo Galeano, duas celebridades da esquerda mundial. A organização argumenta que a responsabilidade das atividades fica a cargo de quem as inscreve, ou seja, a terceirização de parte do processo administrativo para ONGs e ouros grupos exime a organização do Fórum de qualquer responsabilidade.
Dentro deste cenário pessimista, vale destacar duas iniciativas autônomas organizadas paralelamente ao evento: o Caracol de Caratateua e as atividades realizadas no centro comunitário do bairro de Terra Firme, que têm como mérito a integração e troca com as comunidades locais, até então excluídas do Fórum Social Mundial.
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