quinta-feira, 19 de março de 2009

A importação Metodológica como solução?

Recentemente, nos deparamos com debates atuais sobre metodologia em várias matérias na Faculdade. O Professor Corival, o Professor Hage e o Professor Filipe têm apresentado seus respectivos programas em sala e, assim, encontramos um espaço para questionar modelos tecnicistas, a metodologia cartesiana, o pós-modernismo entre outras correntes que debatem os processos metodológicos nas Ciências Humanas. Como estamos no último ano, recordei-me de três textos que havia lido sobre esta correlação de temas. Considerei, então, propícia a publicação de uma apresentação provocativa dos três neste Blog. Espero não causar sonolência em ninguém. (risos)

MERTON, Robert K.; A Profecia que se cumpre por si Mesma, 1970.
ARON, Raymond; Que é uma teoria das Relações Internacionais, 1967.
DEUTSCH, Karl W.; Los nervios del gobierno,1966.

        Com base no Teorema do professor W. I. Thomas, “Se os indivíduos definem as situações como reais, elas são reais em suas conseqüências”, Merton (1970, p.156) estrutura sua argumentação sobre a Profecia que se cumpre por si mesma. O autor foca-se na formação dos intragrupos e extragrupos, suas normas, códigos e relações entre si no âmbito da sociedade. O ápice do debate estabelecido por Merton visa avaliar a força da mobilização social através da premissa das Profecias que se cumprem por si mesmas fundamentadas na especulação ou na ação de um grupo específico sobre o meio e, assim, dialogar com os grupos sociais e a sociedade em si. Desta forma é possível estabelecer a seguinte linha sócio-argumentativa com base nos escritos de Merton (1970): Valores e conceitos são formados para satisfazer os interesses e limitar as ações de cada grupo. A seguir este conjunto espalha-se e tornar-se-á uma tendência. Esta tendência ao ser difundida legitima a Profecia que se cumpre por ela mesma. Ou seja, não importa mais se estes valores estão ligados a uma verdade ou se eles são estruturados em querelas, pois, a partir da difusão a tendência transforma-se em norma social e o indivíduo abandona a sua natureza, a sua forma de ser, para adaptar-se a este grupo. Ora, os indivíduos ao seguirem e se adaptarem a ela, legitimam a Profecia.
        Por outro lado, o francês Raymond Aron (1967) ao transcrever um artigo sobre o que seria uma teoria das Relações Internacionais filia-se a figura do economista como a personagem mais próxima do equilíbrio, tratando-se do método utilizado, entre as variantes filosóficas e empíricas.  Para, assim, alcançar uma formulação teórica. A contribuição de Aron no debate estabelecido foca-se na argumentação singular que se refere a uma crítica sobre a metodologia até então utilizada para o estudo das Relações Internacionais. De fato o economista segue os padrões metodológicos, exigidos pela academia, na formulação teórica devido ao seu objeto de estudo transitar entre a esfera quantitativa com premissas qualitativas. Enquanto o estudioso das Relações Internacionais necessita considerar uma gama de variáveis como as econômicas, políticas e sociais, este não pode limitar-se a compreensões singulares e unidimensionais sobre os temas abordados. Da mesma forma que se da os estudos sociológicos, o objeto das relações internacionais necessita de bases empíricas para as suas variáveis e, com referências históricas, transcorrer os estudos analíticos com o objetivo de assim formular uma subjetividade teórica para encontrar uma linha lógica dentro da ilógica sistêmica. Diferentemente dos estudos de Merton de 1970 que utilizam o empirismo como legitimadores teóricos, Aron (1967) visa o inverso.
        O centro do debate discorrido poderá ser encontrado em Deutsch (1966). Uma das passagens representativa do pensamento destchiniano sobre a questão é a afirmação do autor ao referir-se que “del mismo modo que los valores no deben enceguecermos frente a los hechos, no debemos utilizar los hechos para ocultar nustros valores” (1966, p.23).  Ou seja, a preocupação constante entre as influencias possíveis do filosófico sobre o empírico e do empírico sobre o filosófico. A importância do distanciamento do cientista dos estudos sociais sobre o objeto estudado como eixo principal dos estudos acadêmicos. Deutsch ressalva que os eixos filosóficos e empíricos não devem travar uma batalha entre si, mas auxiliarem-se para um progresso. Entretanto o autor, diferentemente dos dois anteriores não utiliza de uma variante como auxiliar da outra. Mas sim das duas variáveis independentes com objetivos e contribuições distintas que irão contribuir para a totalidade do estudo acadêmico. Portanto não se trata de uma visão filosófica ser legitimada por uma empírica, ou uma empírica possuir um aparato filosófico para assim tornar-se uma teoria. Pois “los estádios filosóficos en el desarrollo de uma ciência determinada se ocupan de la estratégia; seleccionan los objetivos y las principales líneas de ataque. Los estádios empíricos se preocupan por la táctica; alcanzan los objetivos, o bien acumulan uma experiência que mustra que los objetivos no pueden lograrse de esta manera, y que la estratégia empleada era errônea” (1966, p.35).

Nenhum comentário: