quinta-feira, 11 de junho de 2009

Redley Bull e a ordem nas relações internacionais / Fagner dos Santos Carvalho

Barack Obama é eleito presidente dos Estados Unidos; Irã defende o direito à tecnologia nuclear; Governo do Sudão rebate acusações de genocídio; Crise financeira atinge o mundo; Brasil propõe maior regulação no setor financeiro mundial em reunião do G20.Todos os fatos acima elencados, quase que como saídos de manchetes de jornais, fazem parte de temas da atualidade e que, de certa forma, ocorreram em diversas partes do mundo.Se vistos de maneira particular, aparentemente esses eventos dizem respeito apenas as partes envolvidas, contudo, um olhar mais acurado demonstra que todos têm algo em comum: se desenvolvem no grande palco das relações internacionais.Assim, se todos esses fatos particulares possuem algo de semelhante, fica a pergunta: É possível antever uma ordem nas relações internacionais?Essa, certamente, não é uma pergunta fácil, porém, um autor em específico nos ajudará a abordar a questão: Redley Bull.Redley Bull, visto e analisado como pertencente à corrente realista das relações internacionais, é reconhecido como membro da escola inglesa, tendo estudado com Martin Wight, outro autor conhecido nas relações internacionais e de quem foi aluno.Dentre os escritos de Bull se destaca a obra “A sociedade anárquica” onde, dentre outros temas, aborda a questão da ordem no campo internacional.Esse autor, partindo do pressuposto de que o plano internacional é povoado por Estados que apresentam dois caracteres básicos, a soberania interna (ausência de poder superior, que não o próprio Estado, em determinado território) e a soberania externa (vista como independência perante os demais Estados), afirma que a característica principal das relações internacionais é a anarquia, uma vez que nos relacionamentos ente Estados não existe um “ente” que lhes seja superior.Contudo, a anarquia não se traduz em desordem e a medida que um Estado atue internacionalmente e nessa ação, direta ou indiretamente, passe a considerar os demais Estados (não que o Estado deixará de agir, mas ele faz um “cálculo” à respeito dos Estados a quem sua atitude atinge), estaremos diante de um sistema internacional.Quando, porém, as relações entre os Estados se dão com base em valores, crenças, instituições comuns, não se estará somente diante de um sistema internacional, mas sim de uma sociedade internacional.Dessa forma, segundo Bull, mesmo que os Estados atuem internacionalmente em um cenário marcado pela anarquia, é possível vislumbrar que a partir do momento em que eles começam a se relacionar, seja por meio de um sistema internacional ou por uma sociedade internacional, existe uma ordem que permeia esses arranjos.Para Bull, a ordem é vislumbrada na existência de padrões pelos quais os participantes do sistema visam resguardar seus objetivos. Contudo, quais seriam esses interesses?Segundo o autor, poderiam ser vislumbrados como interesses a manutenção do próprio sistema ou sociedade internacional (já que se relacionar pode ser vantajoso); outro intento seria a independência dos próprios Estados, pois essa é a condição necessária para atuar externamente; também a paz pode ser vista como um objetivo (mas não uma paz perpétua, já que ela se subordina aos outros interesses) e, por fim, “a limitação da violência que resulte na morte ou em dano corporal, o cumprimento das promessas e a estabilidade da posse mediante a adoção de regras que regulam a propriedade” .Contudo, Bull vai além e vislumbra não somente uma ordem internacional, mas também uma ordem mundial.Se na ordem internacional existiriam padrões entre os próprios Estados, quando ele trabalha com a idéia de ordem mundial ele vislumbra a existência de padrões que vão além dos Estados e dizem respeito à interesses que envolvem a humanidade como um todo. Aqui, os seres humanos (e não os Estados) são o foco.Dessa forma, mesmo em um mundo marcado pela rapidez com que os fatos ocorrem, envolvendo diversas partes e temas simultaneamente em uma aparente desordem, as palavras de Bull se mostram importantes, não somente para clarear o tema, mas também para auxiliar estadistas, diplomatas e estudiosos das relações internacionais que diariamente trabalham com essa realidade.É por isso que Redley Bull, em especial sua obra “A sociedade anárquica”, faz parte das bibliotecas daqueles que, de alguma forma, pretendem melhor compreender o campo internacional.Fagner dos Santos Carvalho é Bacharel em Relações Internacionais, Mestrando em Relações Internacionais e Desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP/Marília e advogado da Mattos Advocacia (www.mattos.adv.br)

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